/Passagens

por Jorge Forbes

Viajar. Para uns, fascínio, sedução. Para outros, angústia, incômodo, preocupação.

Viajar para alguma coisa, ou viajar sem desculpas, para nada. Aí está a essência de uma viagem: flanar. Seguir o desejo como a tora lançada ao rio segue ao prazer da correnteza.

Viajar. Não há afeto mais otimista, pois acredita no futuro, na mudança, no amanhã.

Viajar. Despregar-se do rame-rame do dia-a-dia, da armadura da agenda, do piloto automático da existência, para se arriscar no risco do encontro e da surpresa.

Viajar, sim, mas não em felicidade enlatada dos parques de diversões de adultos, que oferecem o futuro do passado, como se o que hoje quiséssemos fosse o que ontem não tivemos.

Viajar na responsabilidade de um roteiro escolhido na alta-costura da utopia e da esperança.

Viajar nos detalhes das pessoas, dos locais, do clima, da história e da invenção.

Viajar pelo Brasil: cor, cheiro, remelexo, som de infinitas composições.

Viajar para contar, pois quem viaja quer contar.

Viajar, só, acompanhado.

13 de outubro de 2003