/A Rádio Lacaniana entrevista participantes do Fórum: A Psicanálise versus A Sociedade de Controle.

A Rádio lacaniana, entrevisotu na noite de 10 de junho, no MuBE, alguns participantes do Fórum: A Psicanálise versus A Sociedade de Controle.

Pergunta: O que você achou deste Fórum?

CAIO TÚLIO COSTA – jornalista

Nós ainda estamos no começo do Fórum e acho que o debate já esquentou bastante. Senti a platéia muito animada, disposta a inquirir, a perguntar. O primeiro segmento foi extremamente produtivo; acho que precisaríamos mais tempo para a platéia participar mais ainda. Aprendi muito hoje aqui, com os participantes do segmento, principalmente com Dr. Zacaria Ramadam e Márcio Giovanetti.

LUIZ EDUARDO BORGERTH, advogado e filósofo, trabalhou 35 anos com televisão, na TV Globo.

O tema da comunicação que Caio Túlio abordou é o tema que me dediquei em toda parte adulta da minha vida.
O grande problema da televisão é: o que é a realidade e o que se vê na televisão; até que ponto você vê a realidade e até que ponto a realidade existe independentemente de cada um de nós. E eu disse há pouco que, a rigor, a realidade não existe. O mundo real existe, mas é aquele que nós vemos. Portanto, nada pode ser conhecido verdadeiramente, só nós mesmos. A única ciência é saber, estar ciente de si mesmo. Então a única ciência verdadeira é a ciência de si próprio. E a ciência que analisa a si próprio é a análise, porque também o próprio indivíduo pode estar se enganando sobre si próprio, como pode se enganar sobre a verdade. Por isso acho que nenhuma ciência pode acusar a psicanálise de não ser ciência. E não é à toa que Sócrates, há 400 anos antes de Cristo disse: _ Conhece-te a ti mesmo.

MÁRCIO GIOVANNETTI – psicanalista

O que estou achando deste Fórum?
Em princípio, acho cada vez mais necessários Fóruns como este, onde não se fica aprisionado dentro de uma área específica de conhecimento, há uma transdisciplinaridade: há uma geneticista e há uma predominância de psicanalistas – é um de nossos problemas, eventos de psicanálise quase só para psicanalistas. Nós somos vistos muitas vezes, e com razão, como aqueles que se fecharam numa torre de marfim, e espero que essa torre de marfim seja derrubada, como foram as torres do World Trade Center, não num ato de violência, mas num ato construtivo, isto é, que essa torre de marfim seja desconstruída e que possamos dialogar; afinal somos os profissionais do diálogo – é para isso que a psicanálise foi criada. Essa é a essência da psicanálise. Precisamos dialogar com outros profissionais que têm outras versões da questão humana – que fica a cada momento mais evidente que é complexa demais; que não há aquele profissional, aquela perspectiva que dá conta da marca humana. Uma coisa é a busca do conhecimento, do conhecimento vivido, do conhecimento experenciado, outra coisa é a questão da verdade. Essa verdade, que norteia muitos investigadores, é absolutamente enganosa porque ela nos situa dentro da área da crença. Não é a toa que um livro como “O Código Da Vinci” ecoa em 60 milhões de pessoas no mundo e o filme está aí logo em seguida, porque lida justamente com essa questão da crença humana. Para mim isto está diretamente relacionado com a verdade. Quanto mais o homem crê numa verdade mais ele se fundamentaliza. A questão é que a gente possa relativizar e apreender a complexidade das verdades, das várias verdades ao longo do nosso percurso sobre a terra.

MARCUS ANDRÉ VIEIRA – psicanalista

Para mim este Fórum foi um momento muito especial por poder apresentar alguma coisa da minha prática, da intimidade na praça pública. Eu gosto dessa idéia de praça pública. Acho que o que mais gostei do Fórum foi isso: encontrar colegas da EBP (Escola Brasileira de Psicanálise) e estar representando um pouco do trabalho que a gente desenvolve em vários lugares do país. Eu gostei muito.

GILDA PAOLIELLO – psiquiatra e psicanalista

Achei o Fórum importantíssimo. Esse papel da psicanálise – de esclarecimentos, de levantar debates, de causar incômodo – é fundamental. Então, nesse sentido, o Fórum preencheu tudo e muito mais. Foi muito bom.

MAYANA ZATZ – geneticista

Achei o Fórum fantástico. Para mim tem sido uma experiência muito rica participar dessas discussões com vocês, porque, como cientista, sou treinada a ser muito objetiva ao falar, ao dar o recado. É muito interessante ouvir discussões mais profundas sobre elucubrações mentais; tenho aprendido muito com isso.
Eu tenho um lado mais prático que vocês. Tenho a preocupação de estar estudando e pensando o que fazer com aquela informação; mostrar que a gente gera muita informação, muitas vezes inúteis, que nem sempre vão ajudar. Não é porque você tem um teste disponível que isso tenha que ser oferecido à população. Esse pensamento vai contra os interesses comerciais e eu tenho entrado em brigas enormes por isso.
Acho que a gente vive realmente numa sociedade de controle, acho que é muito difícil sair, mesmo que se queira, e temos que encontrar um equilíbrio. Não temos que viver subjugados, mas sabemos também que não podemos viver completamente livres.

Teresa Genesini