/Como agir no Princípio Responsabilidade – fundamento da ética do desejo – Café Filosófico, 2007

Ciclo de conferências “Como agir no princípio responsabilidade – fundamento da ética do desejo”, do Café Filosófico – TV Cultura

As gravações acontecem no Espaço Cultural CPFL, Campinas, no mês de abril. Às sextas-feiras, 19h, a partir de 13 de abril.

Dizemos “Princípio Responsabilidade” e não da Responsabilidade, semelhante a dizer “Princípio Religioso”, ou “Princípio Racional”.

Vemos nesses três termos uma progressão de tempos: do religioso, ao racional, e, deste, ao responsável. “Deus me guia”, “Penso logo existo”, “A escolha necessária”.

Estamos na globalização: a horizontalização das relações humanas contraria qualquer sacralização do espírito ou da razão. As pessoas se angustiam com o espaço aberto para as suas vontades; têm medo de si mesmas, desconfiam, preferiam quando lhe apresentavam um cardápio de opções e elas podiam reclamar por não nunca terem o prato que queriam.

Basta de queixas e de utopias negativas. Ah, quantos passam por gente séria ao se fazerem profetas da desgraça iminente.

A diferença está no Princípio Responsabilidade. Nada a ver com aquela responsabilidade da educação rígida de nossos pais e avós. Aqui, responsabilidade não é frente ao olhar vigilante do outro, nem se trata com prêmio ou castigo. Responsabilidade, hoje, nesse mundo despadronizado, se refere à escolha necessária, à invenção do cotidiano – sempre arriscada, pois invenção – a que somos obrigados, se não quisermos nos transformar em genéricos. Nada garante a escolha que faz uma pessoa, além do seu desejo e da sua capacidade de inscrevê-lo no mundo; aí opera o Princípio Responsabilidade. Sua ausência não leva à punição, mas ao desaparecimento pela indiferença.

Desenvolveremos este tema em quatro vertentes: ações responsáveis e irresponsáveis; a violência dos que se defendem e a dos que atacam; a ecologia humana; a louca tecnologia.

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1. PRIMEIRA REUNIÃO, 13 de abril, JORGE FORBES

Princípio Responsabilidade: do medo ao desejo

A tomada do poder da tecnologia – uma revolução incontrolável, que não foi planejada por ninguém, e é inteiramente anônima (Jonas) – exige novas representações da vida humana e uma nova ética.

Pela primeira vez a questão é consistente: – A humanidade tem direito ao suicídio?

Pela primeira vez o homem efetivamente tem meios de destruir o planeta e a si mesmo

A esse poder ilimitado tem respondido o Princípio Esperança, baseado no medo. Antepomos ao Princípio Esperança, o Princípio Responsabilidade. Não o da uma responsabilidade disciplinar, mas o da responsabilidade frente ao desconhecido, ao novo, à surpresa. O laço social deve ir além do medo, onde hoje se defende das grandes mudanças, para uma ética do desejo (Lacan), base da invenção do futuro.

Como?

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2. SEGUNDA REUNIÃO, 20 de abril, TERCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR

“Responsabilidade sem culpa, culpa sem responsabilidade na sociedade tecnológica”

A tecnologia hodierna, voltada para a alteração da natureza, apaga as diferenças entre normal e normativo, gerando um ethos de indiferença, em que a responsabilidade, na moral e no direito, nem se funda em convicções nem em resultados, mas nessa vaga e angustiosa percepção de que algo precisa ser feito.

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3. TERCEIRA REUNIÃO, 27 de abril, Cláudia Riolfi

COMO EDUCAR FORA DO CAMPO SANTO: UM PAPO SÉRIO A RESPEITO DE ÉTICA E DE LINGUAGEM.

É ato chato admitir, mas não são poucos os profissionais da educação que deixam de sucumbir à tentação de pensar, ao menos por um segundo, que aluno bom é aluno morto. Aluno morto não se opõe, não questiona, não instiga, não convoca a produzir saídas inovadoras, em suma: mantém o saber em território sagrado e a relação do sujeito com ele inalterada. Assumindo a necessidade irrefutável de ultrapassar esta lógica da desgraça, a idéia, nesta conversa, é construir uma ética para a educação que, pautada no Princípio Responsabilidade (Jonas), nos leve a inventar um outro modo de educar, no qual, cada vez mais, a vida dê o seu ar da graça.